quinta-feira, 8 de novembro de 2007

BOM DIA, ESPANHA

Bom Dia, Espanha!

Hoje acordei pensando em fazer um poema sobre como forçar-se, por uma questao de sobrevivência, a ter esperanças. Caminhava pela rua Javier Dias, numa provincia qualquer da Argentina. As barbas por fazer, a pouca vontade de tomar banho, o dinheiro acabando em parte, outra parte na mao de terceiros sem responsabilidade. Praticamente sem vìnculos de afeto familiar, tornando-me aos poucos um cètico no que se diz amor entre os humanos, hibrido de dois passaportes, sofrendo a risada cìnica das pessoas quando digo que sou escritor, com intençoes blasfematórias contra Deus, que nao me deu absolutamente nada que fosse duradouro ou valesse a pena. Aqui onde estou e donde sai, ningue`m que tenha lido Rimbaud ou se emocionado com a tragica vida de Van Gogh. Estou so`, verdadeiramente. E pensava fazer um poema "eu te forçarei, esperança". Meu mundo nao tem paralelas. Às vezes dòi o sentimento de inutilidade. Tornei-me praticamente invìsivel de alma. Talvez esteja vivendo para os sèculos futuros, ou para nada. Talvez eu seja realmente muito pequeno, insignificante e nao mereça mais do que tenho -´sequer um canto para envergonhar-me sem que ninguèm me veja. Estou exposto. Se continua assim logo estarei pedindo as gentes: - "posso viver"? . Manha cinzenta. Sem sol, sem vento, sem chuva. Debruço-me sobre o correo eletronico e vou lendo a tristeza das gentes de todo o mundo sobre o atentado sobre os trens em Madri. Em algum momento, arrepio-me. Eu sou Espanhol. E`linda a Espanha e dòi-me. A Espanha è minha, mas por que esta`tao distante? Por que tudo està tao distante? A verdade e`que estou confuso, chorei um pouco. Perdoem-me. Ainda sou capaz de sentir e parece que neste cavalo eu vou sozinho (talvez por uma razao cínica) inventar a esperança. Morrer por isso. Melhor que por nada. Bom Dia, Espanha!
Resistiremos. 11.03.2004

Argentina, Doce Argentina

Argentina, Doce Argentina Marcelino Rodriguez Sempre me comoveu, desde ouvir menino a cañção de Evita, onde eu imaginava uma bela Argentina de olhos e pelos negros, passando pela copa de 1978 no delírio azul e branco da equipe de Passarela e Mario Kempes, a Argentina. As lágrimas copiosas que chorei durante a recente crise econômica, que provocou o panelaço. Lágrimas profundas e misteriosas. Eu ja´amava o país mesmo antes de conhecê-lo por terra, qunado o destino inexorável levou-me para a Província de Córdoba, com seu parque Sarmento e sua nostalgica praça San Martin, onde velhos argentinos invocam o fantasma de Perón, sempre presente. Foram dois meses em que achei em mim a outra banda da América, a espanhola. Córdoba de seus cafés e cybers... das ruas arborizadas... do vinho com soda..do mate... do assado do povo pacato e afável... dos quiosques caseiros. Certo que a politica da globalização e a mídia tem feito seus estragos. Que a crise economica fez decair a qualidade de vida, com a luta pela sobrevivência solapando as sutiliezas da cultura, provocando melancolia e grande fluxo migratório. Mas há uma estrutura, um carisma, um charme básico, uma pauta de notas iniciais que a primeira chance que a economia dê alguns avanços e a Argentina pode voltar a luzir como nos tempos em que esteve entre os mais ricos e amados países do mundo.

http://bomdiaespanha.blogspot.com/



ADEUS, FERNANDO!

A morte de Fernando Sabino chegou-me no mesmo dia em que recebia as proivas do meu oitavo livro, Bom Dia, Espanha! Um dia em que estava particularmente reflexivo, sem saber em que destino vai levar-me essa vida de escritor. Ao saber de sua morte, senti algo parecido como quando estava num hotel e soube, pela rádio destinada a tocar somente música, da morte de João Cabral. A noticia deixou-me com sentimentos cruzados de tristeza e esperança. "Morte, colar no pescoço da vida", como dizia Drumond que ele tanto citava. A morte de Fernando, gloriosa porém, veio encontr´-lo com uma obra vasta e um homem relativamente feliz - um belo e raro exemplar da espécie humana, Frnando Sabino. Figura ra de simpatia nos tempos aziagos de hoje. Lembro-me frases soltas dele, nas entrevistas: "_ Eu me considero, graças a Deus, um homem rico. De fato, na infãncia tinha que dividir as bolachas. "- O escritor so´tem oibrigação de escrever. O resto e´com a pátria." Era dono de um otimismto à mineira, sem exageros. _ "No fim tudo dá certo, senão não e´o fim." Fico pensando que atravessei duas décadas lendo e aprendendo com as crônicas dele. "_ A verdade não e´preta nem branca, e´de outra cor que permeia as duas." Os livros da coleção para gostar de ler... sempre a marca da prosa do Fernando. Amante da boa vida, realizou-se nela, olimpicamente. Morreu velho sem parecer velho, dai´minha surpresa, porque jamais dava-me conta da sua idade. Partiu discreto, dentro de casa, sem espanto, na véspera do que seria seu último aniversário. Véspera também do feriado do dia das crianças e da padroeira. Morreu de véspera, elegantemente. Talvez Fernando já estivesse a fim de encontrar seus outros amigos. Fica dele a esperança de encontrar ainda ternura e encanto no elemento humano da vida. Na ultima entrevista que vi dele, divertidíssima, dizia: _ Depois de uma certa idade, se um homem tiver um mínimo de dignidade, tem que jogar fora tudo que os outros e a sociedade jogou em cima dele e tornar-se novamente menino. Para ele, tornar-se menino era ponto de honra.